E a cada dia ampliava-se na boca aquele gosto de morangos mofando, verde doentio guardado no fundo escuro de alguma gaveta.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Os devidos créditos -

http://historiasnataverna.blogspot.com




Era noite no meu quarto de 17 anos. Eu não queria dormir.
No lençol sobre o qual estava sozinha via as luzes do escuro me chamando. Ninguém mais me via.
Gotas de chuva mordiam o edredom, e os vidros da janela brilhavam. Todos dormiam, bem longe, e em meu caminho só o branco da noite vinha chegando. Só eu estava de pé. Os homens dormiam pela cidade inteira.
A noite abria em mim sempre uma nova estrada. Tudo se movia, e eu ouvia os sons incertos, os brindes dos que afundavam para o nada.
Sentia o cheiro do frio. Minha alma estremecia, mas estava acostumada.
Um agudo silêncio gritava a tudo o que era triste. Com raiva, tocava com a minha própria mão um poço sem fundo, no desejo de dar movimento a toda aquela água parada.
O tempo passava. Fugia do sono.
No meu quarto fechado, a noite se retorcia como aquele quadro de relógios derretendo.
O frio me venceu e eu, viva noturna, extasiada, sentia a alma fugir como um tiro alvejando o infinito e indo parar, conseqüentemente, em ti.
Depois, tudo mudou. A alegria que meu ser sentiu por ser. A harmonia de tudo me fez crescer.
Tudo foi resultado de um perfeito e imprevisível encontro de almas.
No ponto mais alto da noite, brilhou mais do que o dia.
O som não parou, e em meus olhos, sobre as vidas que dormem, se declarou o insondado nascer da minha dependência por você.
No meu quarto, aos 17 anos, onde estavam meu olhos, que nunca mais se fecharam.


Escrito a dois anos atrás, encontrado entre folhas antigas, inspirado em algum poema que já li...

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Strawberry Fields Forever - Beatles


Let me take you down
Cause I'm going to
Strawberry Fields
Nothing is real
And nothing to get hung about
Strawberry Fields forever

Living is easy with eyes closed
Misunderstanding all you see
It's getting hard to be someone
But it all works out
It doesn't matter much to me

Let me take you down
Cause I'm going to
Strawberry Fields
Nothing is real
And nothing to get hung about
Strawberry Fields forever

No one I think is in my tree
I mean it must be high or low
That is you can't you know tune in
But it's all right
That is I think it's not too bad

Let me take you down
Cause I'm going to
Strawberry Fields
Nothing is real

And nothing to get hung about
Strawberry Fields forever

Always, no, sometimes, think it's me
But you know I know when it's a dream
I think, er, no I mean, er, yes
But it's all so wrong
That is I think I disagree

Let me take you down
Cause I'm going to
Strawberry Fields
Nothing is real
And nothing to get hung about
Strawberry Fields forever
Strawberry Fields forever
Strawberry Fields forever

(I buried Paul!)
Os devidos créditos a
http://artecomcristo.com




(...) Você quer escrever. Certo, mas você quer escrever? Ou todo mundo te cobra e você acha que tem que escrever? Sei que não é simplório assim, e tem mil coisas outras envolvidas nisso. Mas de repente você pode estar confuso porque fica todo mundo te cobrando, como é que é, e a sua obra? Cadê o romance, quedê a novela, quedê a peça teatral? DANEM-SE, demônios. 
Zézim, você só tem que escrever se isso vier de dentro pra fora, caso contrário não vai prestar, eu tenho certeza, você poderá enganar a alguns, mas não enganaria a si e, portanto, não preencheria esse oco. Não tem demônio nenhum se interpondo entre você e a máquina. O que tem é uma questão de honestidade básica. 
Essa perguntinha: você quer mesmo escrever? Isolando as cobranças, você continua querendo? Então vai, remexe fundo, como diz um poeta gaúcho, Gabriel de Britto Velho, "apaga o cigarro no peito / diz pra ti o que não gostas de ouvir / diz tudo". Isso é escrever. Tira sangue com as unhas. E não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. Mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te. Você não está com medo dessa entrega? Porque dói, dói, dói. É de uma solidão assustadora. A única recompensa é aquilo que Laing diz que é a única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação:um sentimento de glória interior. Essa expressão é fundamental na minha vida.


Trecho de Carta ao Zézim.