E a cada dia ampliava-se na boca aquele gosto de morangos mofando, verde doentio guardado no fundo escuro de alguma gaveta.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010



E se realmente gostarem? Se o toque do outro de repente for bom? Bom, a palavra é essa. Se o outro for bom para você. Se te der vontade de viver. Se o cheiro do suor do outro também for bom. Se todos os cheiros do corpo do outro forem bons. O pé, no fim do dia. A boca, de manhã cedo. Bons, normais, comuns. Coisa de gente. Cheiros íntimos, secretos. Ninguém mais saberia deles se não enfiasse o nariz lá dentro, a língua lá dentro, bem dentro, no fundo das carnes, no meio dos cheiros. E se tudo isso que você acha nojento for exatamente o que chamam de amor? Quando você chega no mais íntimo, No tão íntimo, mas tão íntimo que de repente a palavra nojo não tem mais sentido. Você também tem cheiros. As pessoas têm cheiros, é natural. Os animais cheiram uns aos outros. No rabo. O que é que você queria? Rendas brancas imaculadas? Será que amor não começa quando nojo, higiene ou qualquer outra dessas palavrinhas, desculpe, você vai rir, qualquer uma dessas palavrinhas burguesas e cristãs não tiver mais nenhum sentido? Se tudo isso, se tocar no outro, se não só tolerar e aceitar a merda do outro, mas não dar importância a ela ou até gostar, porque de repente você até pode gostar, sem que isso seja necessariamente uma perversão, se tudo isso for o que chamam de amor. Amor no sentido de intimidade, de conhecimento muito, muito fundo. Da pobreza e também da nobreza do corpo do outro. Do teu próprio corpo que é igual, talvez tragicamente igual. O amor só acontece quando uma pessoa aceita que também é bicho. Se amor for a coragem de ser bicho. Se amor for a coragem da própria merda. E depois, um instante mais tarde, isso nem sequer será coragem nenhuma, porque deixou de ter importância. O que vale é ter conhecido o corpo de outra pessoa tão intimamente como você só conhece o seu próprio corpo. Porque então você se ama também. 




6 comentários:

  1. Perefeito

    amor é isso mesmo

    gostar do cheiro, do "fedor"...
    do mau hálito de manhã...do chulé a noite...
    senão for assim..não é amor


    beijocas

    Loisane

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  2. Cara muito bom esse texto =)adorei
    O amor é isso mesmo ;D

    Um beijo querida

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  3. seu texto me fez ter uma reflexão sobre as 'relações humanas', rs
    formulamos pré-conceitos, aparências superficiais, nojo acerca de qq assunto.
    só desprezamos aquilo que não conhecemos.
    como vc mesmo disse, é necessário experimentar.

    adorei o blog!
    abs

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  4. Noooossa!
    Adorei!!!
    Parece até Nelson Rodrigues.
    E digo mais, bem melhor até!

    Amigaaaaa, matou a pau!
    Tbm adoro-te!
    Grande Beijo!

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  5. Muito muito bom esse texto! Passarei mais vezes por aqui.
    Parabéns!

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  6. Como foi dito no comentário acima lembra Nelson Rodrigues e eu sou fã do Anjo Pornográfico....preciso dizer se gostei.......

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